Cérebro processa língua de Game of Thrones de forma parecida com idiomas de verdade
Em estudo, línguas fictícias como klingon, de Star Trek, e alto valiriano, de Game of Thrones, ativaram as mesmas redes neurais que línguas nativas de participantes. Veja mais Neurocientistas do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) descobriram que as línguas fictícias (as chamadas conlangs), como o esperanto, ativam as redes neurais da mesma forma que os idiomas nativos. O estudo foi publicado em 4 de janeiro na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
As conlangs são construídas por um pequeno grupo de pessoas. O esperanto, por exemplo, foi criado em 1887, com o objetivo de ser uma linguagem universal de fácil compreensão, mas só existem cerca de 60 mil falantes no mundo. Outras línguas fictícias são o klingon, falado na série Star Trek; a linguagem na’vi do filme Avatar; e algumas da série Game of Thrones, como o dothraki e o alto valiriano.
Para fazer o estudo, os pesquisadores coletaram imagens de ressonância magnética funcional (fMRI) de 50 falantes de conlangs. Como resultado, aos voluntários ouvirem a linguagem fictícia na qual eram fluentes, as mesmas redes neurais responsáveis pelo processamento da língua nativa foram ativadas.
“Descobrimos que as línguas construídas recrutam muito o mesmo sistema que as línguas naturais, o que sugere que a principal característica necessária para envolver o sistema pode ter a ver com os tipos de significados que ambos os tipos de línguas podem expressar”, disse a autora sênior do estudo, Evelina Fedorenko, em comunicado.
A pesquisa sugere que, para as línguas ativarem áreas cerebrais parecidas, não é necessário existir um grande grupo de falantes — nem a linguagem ter evoluído por muito tempo. “Isso nos ajuda a restringir a questão do que é uma linguagem e a fazê-lo empiricamente, testando como nosso cérebro responde a estímulos que podem ou não ser semelhantes à linguagem”, afirma Saima Malik-Moraleda, principal autora do artigo.
Língua fictícia x nativa: qual a diferença?
As línguas fictícias são criadas por pessoas que estabelecem os sons, os conceitos e as regras gramaticais envolvidas na fala e na escrita. O processo é muito diferente das línguas naturais, que normalmente, são moldadas ao longo do tempo pelos falantes. Algo como aconteceu no Brasil, em que o português brasileiro evoluiu de uma maneira diferente da língua em Portugal.
Por outro lado, pesquisas anteriores conduzidas por Fedorenko e seus alunos mostram que linguagens de programação, como Python, não ativam a rede cerebral usada para processar a linguagem natural. Em vez disso, a leitura de códigos computacionais depende da chamada “rede de demanda múltipla”, um sistema cerebral voltado a tarefas cognitivas difíceis.
Anteriormente, Fedorenko e outros também investigaram como o cérebro responde a estímulos como música, gestos e expressões faciais. “Passamos muito tempo observando todos esses vários tipos de estímulos, descobrindo repetidamente que nenhum deles envolve os mecanismos de processamento da linguagem”, diz a pesquisadora. “Então, a questão se torna: o que as línguas naturais têm que nenhum desses outros sistemas tem?”
Encontro entre conlangs
Em novembro de 2022, no intuito de entender como o cérebro humano consegue processar línguas construídas, falantes de esperanto, klingon, na’vi, dothraki e alto valiriano foram convidados para uma conferência no MIT.
Nesse evento, 44 falantes foram submetidos a uma ressonância magnética funcional (fMRI) enquanto ouviam a língua fictícia na qual eram fluentes. As frases exibidas na conferência foram elaboradas pelos coautores do artigo, que também são criadores das línguas envolvidas no estudo.
A fins de comparação, no momento em que os falantes estavam no scanner, frases com a sua língua nativa também eram apresentadas e eles também realizaram algumas tarefas não linguísticas.
Como conclusão, os participantes apresentaram a mesma ativação cerebral quando ouviam uma conlang e a sua língua nativa. Com isso, os pesquisadores acreditam que as conlangs, assim como as linguagens naturais, são usadas para expressar sentimentos internos — algo que não acontece quando se usa códigos computacionais.
“Uma linguagem de programação é um sistema simbólico generativo que permite que você expresse significados complexos, mas é um sistema autocontido: os significados são altamente abstratos e principalmente relacionais, e não conectados ao mundo real que vivenciamos”, explica Fedorenko.
Para pesquisas futuras, a equipe da cientista quer estudar como o cérebro responde a uma língua fictícia chamada Lojban, criada em meados de 1990. A linguagem serve para evitar o uso de expressões com o mesmo significado e estimular uma comunicação mais eficiente.
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