Elefantas assumem papel de babás em manadas, revela estudo
Pesquisadores observaram que fêmeas jovens cuidam de filhotes que não são seus, reforçando a cooperação essencial para a sobrevivência da espécie No complexo mundo dos elefantes, as fêmeas desempenham um papel que vai além da maternidade biológica. Elas são conhecidas como “alomães” ou simplesmente “babás”, essas elefantas ajudam a cuidar dos filhotes de outras mães, oferecendo conforto, proteção e até mesmo lições essenciais para a sobrevivência. Um recente estudo e observações no Quênia e em zoológicos, como o San Diego Zoo Safari Park, revelam como esse comportamento fortalece sua a estrutura social.
Em dezembro de 2023, uma elefanta africana de 10 anos desapareceu de sua manada na Reserva Nacional de Samburu, no Quênia. Quando retornou, um mês depois, trouxe consigo duas fêmeas mais jovens, uma delas carregando um filhote recém-nascido. O que chamou a atenção dos pesquisadores foi o comportamento da elefanta que havia sumido: ela assumiu o papel de cuidadora, ajudando a mãe inexperiente a criar seu bebê.
“Ela agiu como uma babá”, explica Giacomo D’Ammando, gerente de pesquisa da organização Save the Elephants, em entrevista ao National Geographic. Esse tipo de cuidado coletivo não é incomum entre elefantes. As alomães, geralmente fêmeas jovens que ainda não tiveram suas próprias crias, desempenham um papel vital na sociedade elefantina, protegendo, ensinando e até mesmo amamentando os filhotes.
Por que as elefantas se tornam babás?
Segundo Shifra Goldenberg, cientista da San Diego Zoo Wildlife Alliance, as babás mais jovens são especialmente atraídas pelos filhotes. “Elas adquirem experiência parental ao interagir com os bebês, o que será útil quando tiverem seus próprios filhos”, diz ele. Além disso, ter mais elefantas cuidando dos pequenos aumenta a segurança da manada, já que os elefantes costumam se dispersar para buscar alimento.
Fêmeas adultas se unem em formação defensiva para proteger dois filhotes durante terremoto no San Diego Zoo Safari Park
Waldemar/ Unsplash
As babás passam grande parte do tempo acariciando os filhotes com suas trombas, confortando-os em situações de estresse, como quando um bebê cai, fica preso na lama ou se separa da mãe. Em casos de perigo, todas as fêmeas do grupo se unem em uma defesa coletiva, formando um “círculo de alerta” ao redor dos mais jovens.
Terremoto revela instinto protetor
Um vídeo gravado em abril de 2025 no San Diego Zoo Safari Park, na Califórnia, mostrou três elefantas adultas formando um círculo protetor ao redor de dois filhotes durante um terremoto de magnitude 5,2. “Sempre que há perigo, o rebanho se reúne, colocando os filhotes no centro”, explica Mindy Albright, curadora de mamíferos do parque.
Goldenberg destaca que, no vídeo, uma das babás chegou a empurrar um filhote que estava fora do círculo, como se dissesse: “Volte aqui, é mais seguro!”. Esse comportamento reforça o papel ativo das alomães na proteção dos mais jovens.
Veja o vídeo abaixo do ciclo criado pelas elefantas adultas ao redor do filhote comentada pelos pesquisadores:
Brincadeiras e “festa do pijama” entre elefantes
A relação entre babás e filhotes não se resume apenas à proteção. Goldenberg observa que há muita brincadeira, o que ajuda os pequenos a desenvolverem habilidades sociais e independência. Esse processo pode levar anos, mas por volta dos 4 anos de idade, muitos filhotes já não dependem mais da mãe para se alimentar.
Albright relata ainda cenas adoráveis no Safari Park: “À noite, os filhotes se aconchegam com as babás em ‘festas do pijama’, enquanto as mães saem para forragear. É muito fofo.”
Outro comportamento intrigante é a “amamentação alógena”, em que filhotes mamam em fêmeas que não são suas mães — mesmo que elas não estejam produzindo leite. “Elas usam a tromba para guiar o filhote até o mamilo, como se dissessem: ‘Eu também posso confortar você'”, descreve Albright.
A sociedade dos elefantes mostra que o cuidado coletivo é essencial para a sobrevivência da espécie. Enquanto os humanos ainda debatem modelos de criação e apoio familiar, esses animais já praticam há milênios um sistema onde “é preciso uma aldeia para criar um filhote”, ou, no caso deles, uma manada inteira.
Share this content: