O novo CEO da Intel, Lip-Bu Tan, apresentou nesta segunda-feira (31) sua visão para reestruturar a gigante de semicondutores durante sua primeira aparição pública como líder da empresa, na abertura do Intel Vision 2025 em Las Vegas (EUA). Com apenas 14 dias no cargo, Tan revelou uma estratégia focada em três pilares principais: estabelecer uma fundição de classe mundial, revitalizar o segmento de data centers e impulsionar inovações na computação para o consumidor final, prometendo uma mudança cultural significativa na empresa.

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Em um momento crucial para a fabricante de chips, que vem enfrentando grandes desafios nos últimos anos, o discurso do novo CEO marcou uma postura diferente da tradicional abordagem da Intel. Com uma trajetória que inclui a bem-sucedida liderança da Cadence Design Systems e experiência como investidor em mais de 250 empresas de semicondutores, Tan chega para tentar reverter a perda de mercado da companhia para concorrentes como AMD e Nvidia.

A apresentação no Intel Vision acontece em meio a um momento de transformação no mercado de semicondutores, impulsionado principalmente pelo avanço da inteligência artificial, que tem redefinido as exigências de clientes corporativos e consumidores finais. Diante deste cenário, o novo CEO não hesitou em reconhecer os problemas enfrentados pelo Time Azul e a necessidade de mudanças profundas para recuperar a posição de liderança que a empresa já ocupou no segmento.

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Nova cultura focada em engenharia e inovação

Lip-Bu Tan estabeleceu claramente que sua missão é transformar a Intel em uma “empresa com foco em engenharia”, resgatando os valores que fizeram dela uma potência tecnológica no passado. “Sob minha liderança, a Intel será uma empresa focada em engenharia. Uma das minhas principais prioridades é reter e recrutar os melhores talentos de engenharia para capacitar a inovação e o crescimento”, afirmou o executivo.

Ele reconheceu a perda de talentos sofrida nos últimos anos e destacou a importância de criar um ambiente que valorize a inovação. “Acredito que a Intel perdeu alguns desses talentos ao longo dos anos. Quero criar uma cultura de inovação e empoderamento. Nossa ambição é, em última análise, criar os melhores produtos e tornar-nos a melhor fundição ao longo dos anos”, explicou.

A nova abordagem cultural proposta por Tan visa eliminar a burocracia que, segundo ele, “mata a inovação”. O executivo destacou como pequenas equipes focadas podem se mover rapidamente e inovar, enfatizando que pretende implementar essa mentalidade na Intel. “A burocracia mata a inovação. Em minha carreira, vi como pequenas equipes focadas podem mover-se muito rapidamente, inovar e superar empresas estabelecidas. Vamos praticar isso na Intel”, declarou.

Estratégia para a transformação: foco no cliente e correção de erros

Desde seu primeiro dia como CEO, Tan priorizou o contato com clientes, aproveitando relacionamentos construídos ao longo de décadas. “Por causa dos nossos relacionamentos e da minha humildade, eles me dão um feedback muito honesto. Está muito claro, a partir das primeiras conversas, que temos muito trabalho árduo pela frente”, admitiu o executivo, estabelecendo um tom de franqueza sobre os desafios enfrentados.

A transparência sobre os problemas e a disposição em ouvir críticas marcaram o discurso do CEO. “Há áreas em que ficamos aquém das expectativas [dos clientes]. Vou reunir equipes fortes para corrigir os erros do passado e começar a conquistar sua confiança”, afirmou o executivo, cuja abordagem se resume em “prometer menos e entregar mais”.

Ele compartilhou uma experiência pessoal de seu tempo como CEO da Cadence Design Systems, quando pediu aos clientes que avaliassem seus produtos e recebeu notas baixas. “Foi humilhante, mas realmente me motivou a mudar, e esse foi o ponto de virada para a empresa”, relatou. Para a Intel, Tan planeja uma transformação semelhante, pedindo feedback honesto e constante dos clientes para guiar as melhorias necessárias.

Nova abordagem para uma nova era: software e IA em primeiro lugar

Um dos pontos mais significativos da apresentação foi o anúncio de uma mudança fundamental na abordagem de design da Intel. “No passado, a abordagem da Intel era de dentro para fora. Projetamos hardware e depois você descobria como desenvolver o software para fazê-lo funcionar. O mundo mudou”, explicou Tan.

A nova estratégia inverte essa lógica: “Vamos começar com o problema que você está tentando resolver e as cargas de trabalho que precisa lidar ou habilitar. Então, trabalhamos de trás para frente a partir daí. Isso requer adotar a mentalidade Software 2.0, o que significa ter um pensamento com software em primeiro lugar“, detalhou o CEO.

Tan enfatizou que a Intel usará design de sistemas baseado em IA para acelerar o desenvolvimento de novas arquiteturas de computação e plataformas. “Aprendi no meu tempo na Cadence que adotar IA impulsiona significativamente o desempenho e a eficiência energética em mais de dois dígitos. Você pode ver uma mudança no jogo e como ajudar os clientes a serem mais produtivos em seus designs”, destacou.

3 prioridades fundamentais da Intel

O CEO definiu claramente as três principais áreas de foco para a empresa nos próximos anos. A primeira é estabelecer uma fundição de classe mundial, um elemento crucial para a estratégia da Intel em competir no mercado de fabricação de chips, sobretudo contra a TSMC. “A demanda global por produção de chips está crescendo e você precisa de cadeias de suprimentos flexíveis, resilientes e seguras. A fundição da Intel desempenhará um papel crucial”, explicou Tan.

A segunda prioridade é revitalizar o segmento de data center, onde a Intel perdeu terreno significativo nos últimos anos, principalmente para a AMD. “No data center, precisamos fortalecer nossa oferta. Perdemos bastante talento. Essa é minha principal prioridade: recrutar alguns dos melhores talentos do setor para voltar e depois se juntar ou se reunir à Intel”, reconheceu o executivo.

A terceira área de foco é a inovação na computação do cliente, onde a Intel continua sendo forte, mas enfrenta concorrência crescente. “Vamos impulsionar uma forte inovação. Essa tem sido há muito tempo uma área de força. Mas a competição aumentou. Eles mudaram a carga de trabalho e não podemos ficar parados”, afirmou Tan, prometendo fortalecer produtos e roteiros de desenvolvimento.

Promessas para 2025 e visão de longo prazo

Um dos compromissos mais concretos anunciados por Tan foi o lançamento do processador Panther Lake com o processo de fabricação Intel 18A ainda em 2025. “Estamos avançando com nosso 18A, bem como nosso futuro nó 14A. O 18A está definido para entrar em produção de alto volume no segundo semestre deste ano com o Panther Lake. Esse é nosso próprio requisito. Precisamos ter isso”, enfatizou o CEO, demonstrando a importância desse marco tecnológico.

O novo chefão do Time Azul também abordou o papel da companhia como única empresa estadunidense que projeta e fabrica chips avançados, destacando sua função essencial no ecossistema de fundição, especialmente nos Estados Unidos. “Estou muito satisfeito em ver a administração atual concentrada em fortalecer a liderança estadunidense em tecnologia e manufatura”, comentou.

O CEO encerrou sua apresentação com um compromisso de longo prazo com a empresa. Quando questionado sobre quanto tempo permaneceria na posição, sua resposta foi clara: “Estarei aqui pelo tempo que a empresa precisar”. Tan prometeu que a Intel “voltará às suas raízes como uma empresa essencialmente de engenharia” e “começará a agir como uma startup novamente”, ouvindo atentamente e agindo com base no feedback dos clientes.

Cultura de engenharia renovada

Com uma experiência diversificada que inclui formação em Física quântica e Engenharia Nuclear, além de uma carreira bem-sucedida como investidor de capital de risco e CEO, Lip-Bu Tan traz uma perspectiva diferenciada para a liderança da Intel. Citando o filósofo Henry David Thoreau, Tan destacou sua filosofia: “Em vez de amor, dinheiro e fama, dê-me a verdade”, enfatizando a importância da honestidade nas relações com clientes, equipes e parceiros.

A visão do malaio radicado nos EUA para a Intel enfatiza o trabalho em equipe, inspirado em suas experiências esportivas. “Times ganham campeonatos, não indivíduos”, afirmou, destacando sua intenção de construir uma cultura colaborativa que valoriza a inovação e entrega resultados.

Ao reconhecer as dificuldades que a Intel tem enfrentado e propor uma abordagem mais humilde e centrada no cliente, Tan parece buscar um novo capítulo para a empresa. Se ela conseguirá reassumir o protagonismo de outrora no mercado de semicondutores que hoje é extremamente competitivo e pautado na revolução da inteligência artificial, isso só o tempo dirá.

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