
A peça foi produzida pelo pintor Frans Post, com base em suas memórias e em anotações que fez durante o período em que morou na colônia holandesa instalada no atual território do Nordeste Vista de Olinda, Brasil, com ruínas da igreja dos Jesuítas (1666), uma obra de arte rara assinada por Frans Post, foi arrematada em leilão pelo valor de US$ 7 milhões (cerca de R$ 39 milhões) – o valor mais alto já pago por uma tela do pintor. O quadro retrata a paisagem da cidade pernambucana no século 17, quando ainda integrava o território colonizado pelo Império Holandês.
Localizado em 1998 no sótão de um celeiro em Connecticut, nos EUA, estima-se que o item permaneceu por ali durante quase três décadas, o que fez com que ele adquirisse bastante sujeira. Mesmo assim, com a indicação do curador George Wachter, a peça foi comprada pelo casal Jordan e Thomas Saunders pelo valor aproximado de US$ 2 milhões (R$ 12 milhões).
“O quadro estava muito imundo e mal dava para enxergar o que estava sendo retratado ali. Mas senti que ele tinha muito potencial, por isso insisti para que Jordan e Thomas o comprassem”, lembra Wachter, em vídeo à casa de leilão Sotheby’s. “Em seguida, procuramos uma conservadora de Nova York para realizar a restauração do objeto”.
Por meio de solventes químicos e cotonetes macios, Nancy Krieg conseguiu remover a sujeira da cena. Assim, o preto foi dando espaço para um cenário colorido, repleto de azul e verde. Aos poucos, tornou-se visível as ruínas de uma igreja, homens e mulheres escravizados carregando cestos e um conjunto de animais (que incluíam duas espécies típicas do país, um tamanduá e um tatu).
Pintor especialista em Brasil
Post nasceu em 1612 na cidade de Haarlem, na Holanda. Ele pertencia a uma família de artistas e, desde cedo, foi incentivado a treinar sua pintura. A virada de chave de sua carreira veio aos 24 anos, quando ele viajou para o Brasil, a convite do governador João Maurício de Nassau. Por aqui, esteve na região nordeste, onde, outrora existia a Nova Holanda (também conhecida como “Brasil Holandês”).
O artista viveu no território por apenas oito anos, mas sua estadia serviu de inspiração para uma vida inteira. Ao retornar à Europa, ele se tornou muito requisitado por seus quadros ricos em detalhes das paisagens tropicais da América, fruto dos dias que passou observando e rascunhando elementos da fauna e da flora brasileiras.
Os esboços detalhados da flora e fauna brasileiras de Post permitiram-lhe pintar cenas da América com grande riqueza de detalhes, mesmo anos após seu retorno à Europa
Wikimedia Commons
Seu primeiro grande público foram os antigos comerciantes e administradores coloniais, que ansiavam por uma lembrança de sua estadia no Brasil. Como eles próprios já haviam visto os pontos turísticos, eles exigiam precisão e detalhes reconhecíveis.
Em poucos anos, o mercado de Post se voltou mais para compradores que não tinham visitado a colônia, mas alimentavam ideias exóticas sobre Brasil. Isso permitiu com que o pintor tomasse algumas liberdades poéticas para retratar a região de maneira não tão fiel à sua paisagem nativa.
Desmembrando o quadro
Como destaca a revista Smithsonian, Vista de Olinda, Brasil, com Ruínas da Igreja dos Jesuítas é um exemplo claro desse processo de pintura com certas liberdades criativas. Embora ainda se baseie em suas memórias e esboços detalhados, o quadro de 1666 é uma miscelânea de diferentes cenas dispostas em uma única tela.
No canto inferior esquerdo da tela, é possível notar uma diversidade de animais e plantas exóticas. Um grande lagarto, um pássaro branco, um tamanduá e um tatu aglomeram-se em torno de um pé de abacaxi.
Já no centro inferior, homens e mulheres escravizados carregam cestos por um campo. Outro grupo de pessoas caminha em direção às ruínas à direita, identificadas como a igreja jesuíta de Nossa Senhora das Graças, em Olinda.
Essas formações, posicionadas em frente ao Rio Beberibe e sob um céu azul perfeito pontilhado de nuvens fofas, representam “quase mais um capricho, uma paisagem imaginada, do que uma topografia precisa”, afirma Daria Foner, especialista em pintores antigos da Sotheby’s, em vídeo. “Mas acho que isso a torna ainda mais evocativa”.
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