Por que tantos animais estranhos vivem na Austrália?
De mamíferos com bolsas a répteis venenosos, a fauna australiana se destaca por ser única no mundo. Entenda por que isso acontece A fauna australiana contém alguns dos animais únicos do mundo, como cangurus, petauros-do-açúcar (um mamífero planador), coalas, ornitorrincos, equidnas, wombats, quokkas e os demônios da Tasmânia (sim, a Tasmânia é um estado australiano). Mas por que, afinal, tantos bichos estranhos vivem na Austrália?
Mais de 80% das quase 400 espécies de mamíferos da Austrália não são encontrados em nenhum outro lugar do mundo. O mesmo ocorre com cerca de 95% das quase 1000 espécies de répteis e com mais de 90% das quase 300 mil espécies de invertebrados. Além de exclusivas da Austrália, muitas dessas espécies não parecem estar relacionadas a outras encontradas no resto do planeta.
A resposta mais simples para esse fenômeno é: isolamento. Cerca de 225 milhões de anos atrás, os continentes estavam todos unidos em uma grande massa de terra chamada Pangeia. Aproximadamente 75 milhões de anos depois, a Pangeia se dividiu em duas partes: Laurásia (no norte) e Gondwana (no sul). Gondwana abrigava o que hoje são a África, a América do Sul, a Índia, a Austrália, Madagascar e parte da crosta continental que mais tarde formaria a Nova Zelândia.
Esse supercontinente também começou a se partir e, cerca de 40 milhões de anos atrás, a Austrália se separou da Antártica e da América do Sul. A partir daí, o destino estava traçado: as espécies da Austrália passaram a evoluir isoladamente, com pouco contato com o resto do mundo.
Vale dizer que a Austrália compartilha muitas espécies com Papua Nova Guiné e Indonésia, países que estão na mesma placa tectônica. Isso porque esses três países estavam unidos até a última Era do Gelo, cerca de 12 mil anos atrás, quando suas ligações terrestres foram submersas pela água das geleiras em derretimento.
“Todos os outros continentes tiveram conexões físicas entre si, o que significa que estiveram trocando biotas [animais e plantas] ao longo do tempo. Temos, por exemplo, camelos na América do Sul e camelos na Ásia. Os camelos da América do Sul são as lhamas e alpacas”, afirmou ao jornal Sydney Morning Herald o paleontólogo australiano Michael Archer.
Ou seja, enquanto os outros continentes estavam intercambiando códigos genéticos, a Austrália precisou evoluir sozinha, o que gerou um conjunto único e bastante diverso de espécies, as quais estão adaptadas ao clima local. Os coalas, por exemplo, só comem folhas de eucalipto, que são venenosas para quase todos os outros animais. O eucalipto é um dos gêneros de árvores mais característicos da Oceania, com mais de 700 espécies presentes.
Falando em veneno, vale dizer que a Austrália não tem uma quantidade muito maior de animais venenosos ou peçonhentos do que outros países. “A Austrália tem uma imagem longeva e proeminente como lar de animais altamente venenosos, mas, na maioria dos casos, isso é exagerado”, afirmou Michael Lee, professor de biologia evolucionária, ao site Live Science. Isso acontece porque a maioria dos animais com veneno já existia antes da separação dos continentes — os que existem na Oceania só ficaram presos por lá.
Mas há uma exceção: as serpentes. Das 220 espécies de cobras da Austrália, 145 são venenosas. Ou seja, 65%, sendo que, no resto do mundo, apenas cerca de 15% das serpentes têm veneno. Moral da história? Melhor não tentar a sorte com as cobras australianas se estiver viajando por lá. Por via das dúvidas, o mesmo vale para qualquer um dos outros animais locais.
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