‘Saímos da UTI e voltamos a crescer’: como a Tenda prevê multiplicar o resultado
Rodrigo Osmo, CEO da Tenda, compara o momento atual da empresa a um bem sucedido tratamento médico. “Saímos da UTI: agora somos uma empresa super saudável e focada no crescimento”, disse o executivo em entrevista à Bloomberg Línea.
Como muitos pares, a construtora voltada para o público de baixa renda foi fortemente afetada pela alta da inflação no pós-pandemia, que fez disparar o custo das obras e minou o caixa da companhia.
A derrocada começou em 2021, que deu início a três anos de prejuízo. O ano de 2024 foi o primeiro em que a Tenda conseguiu voltar a fechar no azul, com um lucro líquido de R$ 106,4 milhões.
“Tivemos inflação entre 2021 e 2022 na ordem de 30% ao ano, enquanto a estimativa era de 5% ao ano quando fizemos as vendas. Sabíamos que iríamos perder dinheiro durante a execução das obras. O que era possível seria tirar o máximo de eficiência para sair bem desse ciclo, que foi o que fizemos em 2024”, avaliou o executivo.
Para este ano de 2025, a ambição é quase quadruplicar o número da última linha do balanço. A estimativa é alcançar um lucro no intervalo entre R$ 360 milhões (+238%) e R$ 380 milhões (+257%) para os resultados da Tenda, e de até R$ 20 milhões para a divisão de casas pré-fabricadas Alea.
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No topo do guidance, o lucro poderia chegar a R$ 400 milhões, ou seja, quase quatro vezes o resultado do último ano – ou na casa de 275%.
Osmo disse avaliar que o resultado será uma continuidade do processo de recuperação dos últimos anos, com retomada de margem e redução da alavancagem.
“Temos conseguido um crescimento significativo de margem bruta, e a expectativa é ganhar quatro pontos de margem neste ano. Além disso, estamos com um balanço muito mais leve, com menos dívidas sobre o patrimônio do que no ano passado.”
Segundo Osmo, a desalavancagem do balanço permite que a Tenda navegue com maior tranquilidade em um cenário como o de 2025, em que as taxas de juros seguem acima dos dois dígitos.
Outra fortaleza da empresa é o foco no MCMV (Minha Casa Minha Vida), que é financiado via FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e, portanto, não sofre com a variação da taxa de juros.
“A taxa de juros joga contra o investimento de qualquer empresa. Por outro lado, o momento do MCMV é muito benéfico e estamos em um posicionamento único no faixa 1, com participação maior nessa fatia que os concorrentes de capital aberto. Dito isso, estamos mais dispostos a acelerar do que a pisar no freio.”
A Tenda tem 60% de suas vendas voltadas para a faixa 1 do MCMV, que atende as famílias consideradas mais vulneráveis do programa, com renda mensal de até R$ 2.640.
O faixa 1 foi prioritário na agenda do governo Lula ao longo de 2024 e obteve benefícios tributários. As construtoras que atuam na faixa 1 tiveram redução no regime especial de tributação (RET), cuja alíquota caiu de 4% para 1% no ano passado.
“Era uma faixa que estava desassistida antes da virada do governo e que passou a ser muito priorizada. Acabamos beneficiados: uma parte do nosso ganho de margem veio de uma ênfase maior do programa para esse estrato de renda”.
Questionado sobre o novo foco do governo em 2025 com a criação do faixa 4 do MCMV, para famílias que ganham de R$ 8.000 a R$ 12.000, Osmo disse que a iniciativa não deve ter efeito sobre os números da Tenda.
“Ainda não temos pretensão de atuar nesse patamar de renda, mas temos feito vários lançamentos, principalmente no Nordeste, dentro do faixa 3. E eles têm tido grande êxito”, afirmou.
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Potencial ‘oculto’ da Alea
A expectativa de crescimento para 2025 envolve também a Alea, que pode ter seu primeiro ano de lucro. Desde sua fundação em 2021, a startup de casas de madeira deu prejuízo para o balanço do grupo: foram R$ 15,9 milhões de impacto negativo da Alea no último balanço trimestral, por exemplo.
Mas o guidance para 2025 estima um lucro na faixa entre zero e R$ 20 milhões. A partir de 2026, a Alea deve se tornar geradora de caixa. “É um lucro pequeno, mas simbólico por ser o primeiro desde sua criação”, destacou Osmo.
A Tenda não abre mais informações sobre qual a expectativa para a Alea, mas o executivo defendeu que há um potencial “gigantesco” da subsidiária. Isso porque, nos cálculos da Tenda, a demanda do mercado de casas representa 70% do mercado brasileiro, versus 30% para prédios – que é justamente o segmento em que se concentra a concorrência.
“Em geral as construtoras não investem em casas porque é um produto complexo. Mas nós retiramos essa complexidade levando a construção para dentro de uma fábrica. Temos um domínio sobre o processo construtivo que garante qualidade e um custo sob controle”, afirmou.
A expectativa é que a consolidação da Alea destrave um novo potencial de valor para a companhia. Em uma aposta na tese, a gestora Good Karma Partners (GKP), de Eduardo Mufarej, que tem R$ 400 milhões para investir em projetos de impacto social, comprou 6,97% do capital social da Alea, por R$ 80 milhões.
O negócio anunciado em dezembro passado avaliou a Alea em R$ 1,17 bilhão – valor que representava à época o equivalente a 73% do market cap da Tenda, de R$ 1,60 bilhão. Passados cinco meses, o valor de mercado da Tenda avançou para R$ 1,82 bilhão.
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Resultados de 2025
A Tenda já apresentou os primeiros sinais de sua atuação em 2025 com a divulgação da prévia do primeiro trimestre, que mostrou números em linha com as expectativas dos analistas.
Os lançamentos consolidados do grupo totalizaram um valor geral de vendas (VGV) de R$ 920,9 milhões (R$ 100 milhões deles vindos da Alea), uma alta de 20,7% frente ao último ano.
As vendas líquidas somaram R$ 1,09 bilhão no primeiro trimestre, valor 12,7% maior em relação ao mesmo período de 2024, com uma venda.
As ações da Tenda avançam cerca de 20% no acumulado do ano. Entre os analistas acompanhados pela Bloomberg, nove têm recomendação de compra para o papel, dois estão neutros e um indica a venda.
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