
Enquanto a edição de 2024 da Agrishow foi estrelada pelas soluções aéreas, com o lançamento de drones de diversos tipos, aviões e até um carro voador, a de 2025 fez o visitante olhar para baixo. Mas não para lamentar. Muito pelo contrário.
Dessa vez, a feira não apresentou tecnologias revolucionarias para riscar os céus. Foram mais comuns aquelas que aprimoraram modelos já existentes. O momento foi de manter os pés no chão e preparar o terreno para a agricultura dos próximos anos. Literalmente.
Isso porque as preocupações com o solo ganharam espaço: em temas de conversas, formalização de parcerias e até em movimentos silenciosos e invisíveis ao público. A revolução da histórica 30ª edição da Agrishow não fez frente ao som potente emitido pelas grandes máquinas, já que é promovida por microrganismos, mas, mesmo assim, atraiu olhares e ouvidos.
“Um ponto que todo mundo está vendo é que a monocultura, o uso excessivo de químicos, as adversidades climáticas, tudo isso foi danificando o solo. Fizemos um caminho de ida e agora estamos fazendo o caminho de volta. Tecnologias que aumentam a biodiversidade vão começar a despontar, desde questões moleculares para o solo até inteligência artificial para diagnóstico e precisão, para entregas mais direcionadas. São aspectos que vêm aí para ajudar o agricultor”, anuncia Jhones Oliveira, co-fundador da B.nano, startup criada em 2022 no Laboratório de Nanotecnologia Ambiental da Unesp de Sorocaba e que conta com parceria do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável (INCT NanoAgro).
A B.nano, que esteve presente no Agrishow Labs, pavilhão que reuniu mais de 30 startups com propostas disruptivas para o agro, demonstrou o resultado de um processo de encapsulação de uma nanopartícula polimérica para aplicação na cultura do milho. Além de ser voltada ao tratamento de sementes, a solução tem aplicação foliar. “Esta é a nossa primeira participação na feira e será muito importante para que a gente possa captar parceiros para o projeto”, contou Oliveira.
Testes realizados pela empresa na região de Sorocaba (SP) apontaram que a formulação foi capaz de entregar 26 sacas a mais por hectare. “Destaco a vitalidade atribuída às plantas, o que impacta em uma consequente maior resistência e a ampliação de mais de 14% em produtividade nas lavouras”, disse Oliveira.
O desenvolvimento da nanocápsula tem financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Na visão do cientista, a nanotecnologia não chega a ser uma “bala de prata” para resolver os principais desafios da produção de alimentos no Brasil, mas a tendência é que seja uma ferramenta fundamental para promover mais eficiência e precisão, bem como para responder aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da Organização das Nações Unidas (ONU), por possibilitar alimentos sem resíduos, redução da exposição de agricultores e consumidores aos agrotóxicos, aumentar a resiliência climática, favorecer a atividade microbiana no solo e também dos polinizadores.

No papel
O solo ganhou tanta relevância na Agrishow que as novidades não ficaram apenas nos estandes. Foram chanceladas com assinaturas do Instituto Agronômico (IAC) e da Koppert, uma das referências globais em controle biológico – que firmaram, por intermédio do Centro de Cana, que funciona em anexo à área onde é realizada à Agrishow, uma parceria para impulsionar soluções sustentáveis no setor sucroenergético.
A formalização do acordo colocou em evidência a saúde do solo, já que o objetivo principal é validar tecnologias voltadas ao manejo integrado na agricultura convencional com o uso de opções biológicas.
A proposta é que a parceria tenha duração de cinco anos. Um módulo experimental de um hectare será instalado no Centro de Cana para experimentos, apresentação dos resultados obtidos, realização de dias de campo e de visitas técnicas. “Essa colaboração estabelece protocolos de manejo com produtos biológicos com o intuito de favorecer o solo e as plantas. Um solo equilibrado e biodiverso resulta em plantas mais vigorosas e produtivas”, declarou, por meio de nota, a consultora de desenvolvimento de mercado da Koppert Brasil, Isabela Beton.
Em entrevista ao Agro Estadão, o diretor geral do IAC e líder do programa de cana-de-açúcar, Marcos Landell, explicou que foi identificado, na Koppert, pelo histórico da empresa em inovação tecnológica, um parceiro de grande potencial para o combate a pragas e doenças com o uso de biológicos nas lavouras. “O IAC atua para desenvolver variedades mais tolerantes, que demandem menos água e defensivos. E, neste sentido, as parcerias são fundamentais, para que tenhamos, cada vez mais, viabilidade econômica e ambiental”, disse.
Durante seus 138 anos de existência, o IAC colocou no mercado mais de 1.200 variedades de cana-de-açúcar, derivadas de mais de 100 espécies.

Cinco funções
Aliar cuidados com o solo à saúde financeira do agricultor é uma das propostas da companhia japonesa Komatsu. Esses itens foram embarcados em uma máquina focada no setor florestal que executa cinco funções. Ela planta, compacta a muda, aduba, irriga e faz o georreferenciamento, tanto em terrenos planos quanto de leve inclinação, de até 17º. O equipamento promete, além de diversificação nos negócios, recuperação de solos degradados.
A plantadeira multifuncional tem compartimentos para carregar duas mil mudas e plantar cerca de 600 por hora. Por depositar o fertilizante imediatamente após a inserção da planta, otimiza etapas que mobilizariam diversos processos e pessoas se a atividade fosse manual. “Na silvicultura convencional, a adubação é feita de forma contínua, o que nem sempre garante que o fertilizante vá ficar próximo da raiz. No caso dessa máquina, o fertilizante é depositado bem na base da planta”, explica Dênis de Paula, consultor de vendas da Komatsu.
O equipamento tem capacidade para transportar, também, 900 quilos de fertilizantes e 6 mil litros de água, quantidades suficientes para o plantio da capacidade total, de duas mil mudas, o que visa à redução do desperdício de recursos e da necessidade de paradas.
“O uso da tecnologia está crescendo cada vez mais e, no caso do plantio, vai contribuir no aprimoramento não apenas de uma agricultura mais sustentável, mas para etapas posteriores, como a colheita. Um plantio bem feito resulta em uma colheita melhor”, conclui de Paula.
Quem andou pela Agrishow deve concordar que, além da colheita literal, das plantas no campo, o tratamento diferenciado ao solo é uma das grandes demandas para a transformação da agricultura e para que a colheita seja farta, também, melhoria da qualidade da vida humana.
O post Solo deixa ser coadjuvante para virar um dos protagonistas da Agrishow apareceu primeiro em Agro Estadão.
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